fbpx

Manuel Bandeira: Um Modernista Implacável


Ilustração de Machado | Arte de Banco de Rimas

É o famoso brasileiro que desejou, poeticamente, ir embora para Pasárgada

Manuel Carneiro de Sousa Bandeira Filho nasceu em Recife (PE), em 19 de abril de 1886, e faleceu no Rio de Janeiro (RJ), em 13 de outubro de 1968, cidade para a qual mudou-se com a sua família aos 10 anos de idade.

Formado em Letras, ele foi poeta, professor de literatura, crítico literário e crítico de arte. Os temas mais predominantes de sua obra falam sobre a paixão pela vida, a morte, o amor, o erotismo, a solidão, o cotidiano e a infância. Outro fato importante foi ter feito parte da primeira geração modernista no Brasil.

Filho do engenheiro Manuel Carneiro de Souza Bandeira e de Francelina Ribeiro, abastada família de proprietários rurais, advogados e políticos; Bandeira também teve oportunidade de cursar arquitetura, na Faculdade Politécnica em São Paulo. Mas deixou o curso devido à tuberculose, que naquela época não tinha tratamento efetivo.

Bandeira foi um dos maiores representantes da primeira fase do Modernismo Brasileiro. Em 1917, estreou com seu livro poético “A Cinza das Horas”, de perceptível influência Parnasiana e Simbolista, escrito durante o tempo que passou na Suíça cuidando da tuberculose. Portanto, a obra é marcada por poemas melancólicos. Dois anos depois foi a vez de “Carnaval” (1919), anunciando essa nova tendência estética da época no país.

Modernista, o poema “Vou-me embora pra Pasárgada” pode ser lido na obra Libertinagem. A narrativa aponta para um sujeito com muita vontade de se refugiar em um lugar paradisíaco, a fim de fugir da realidade. Bandeira tinha 16 anos quando soube que Pasárgada tinha sido a capital do Primeiro Império Persa. Segue trecho do conhecido poema:

Foto: Reprodução

Vou-me Embora pra Pasárgada

Vou-me embora pra Pasárgada
Aqui eu não sou feliz
Lá a existência é uma aventura
De tal modo inconsequente
Que Joana a Louca de Espanha
Rainha e falsa demente
Vem a ser contraparente
Da nora que nunca tive

E como farei ginástica
Andarei de bicicleta
Montarei em burro brabo
Subirei no pau-de-sebo
Tomarei banhos de mar!
E quando estiver cansado
Deito na beira do rio
Mando chamar a mãe-d’água
Pra me contar as histórias
Que no tempo de eu menino
Rosa vinha me contar
Vou-me embora pra Pasárgada

 

Para a Semana de Arte Moderna de 1922, Bandeira enviou o poema “Os Sapos” que, lido por Ronald de Carvalho, tumultuou o Teatro Municipal, causando um grande tumulto com direito a vaias e gritos. O trecho do poema a seguir ironiza as características do Parnasianismo, de maneira debochada e belicosa criticando as rigorosas métricas e rimas dessa escola literária:

Os Sapos

Enfunando os papos,
Saem da penumbra,
Aos pulos, os sapos.
A luz os deslumbra.

Em ronco que aterra,
Berra o sapo-boi:
— “Meu pai foi à guerra!”
— “Não foi!” — “Foi!” — “Não foi!”.

O sapo-tanoeiro,
Parnasiano aguado,
Diz: — “Meu cancioneiro
É bem martelado.

Vede como primo
Em comer os hiatos!
Que arte! E nunca rimo
Os termos cognatos!

O meu verso é bom
Frumento sem joio
Faço rimas com
Consoantes de apoio.

Vai por cinquenta anos
Que lhes dei a norma:
Reduzi sem danos
A formas a forma.

Clame a saparia
Em críticas céticas:
Não há mais poesia,
Mas há artes poéticas . . .”

Bandeira criticava o lirismo exagerado, tão difundido por autores do Romantismo, que exageravam o instinto melancólico quase como que querendo fugir da realidade. O Modernismo valorizava a liberdade de expressão e o uso dos versos livres e um certo coloquialismo – aproximando a língua falada da escrita.

Além de “A Cinza das Horas” e “Carnaval”, entre suas principais obras escritas no gênero de poesia, estão: “O ritmo dissoluto” (1924), “Libertinagem” (1930), “Estrela da manhã” (1936), “Poesias escolhidas” (1937), “50 Poemas escolhidos pelo autor” (1955), “Alumbramentos” (1960) e “Estrela da tarde” (1960).

Em prosa podemos destacar: “Crônicas da província do Brasil” (1936), “Noções de história das literaturas” (1940), “Gonçalves Dias, biografia” (1952), “Itinerário de Pasárgada” (1954) e “Os reis vagabundos e mais 50 crônicas” (1966).

No que diz respeito às antologias, vale a pena lembrar de: “Antologia dos poetas brasileiros da fase romântica” (1937), “Antologia dos poetas brasileiros da fase parnasiana” (1938) e “Antologia dos poetas brasileiros bissextos contemporâneos” (1946).

Manuel Bandeira é um grande artista das palavras. Sua obra revela uma vida de dedicação à literatura brasileira, publicando uma grande quantidade de contos, poesias, traduções e críticas literárias. É também um fundamental exponente do modernismo brasileiro, tendo ainda contribuído com publicações em algumas revistas que propagavam tal movimento.

Leia sobre Os Heterônimos de Fernando Pessoa
Conheça a Árvore de Rimas

Siga o Banco de Rimas nas redes sociais: